Emoções & sentimentos
Por Patrícia Rodrigues Tomaz [1]
Compreendemos que as expressões das emoções e sentimentos são imperativas no comportamento, às vezes, determinantes, em situações que envolvem as relações humanas e a mediação de conflitos, inclusive. Observando essa dimensão, o estudo da manifestação dessas emoções no curso Habilidades socioemocionais aplicadas à gestão de conflitos, ministrado pela professora Juliana Sales, tem o intuito de auxiliar os sujeitos na sua prática cotidiana. Desse modo, os sujeitos em conflito (ou não) nos dão elementos para analisarmos o modo como se constroem essas emoções e sentimentos e atendermos as necessidades de conversação nas nossas relações.
Dessa forma, no processo evolutivo da linguagem e da comunicação, as emoções são um parâmetro constitutivo dessas relações. Para Darwin ([1872] 2009), as emoções são uma sequência de comportamentos inicialmente funcionais e conservadas durante a evolução em razão de seu valor adaptativo. A expressão da emoção é uma função natural e exerce papel fundamental no processamento da linguagem e nas práticas linguísticas e há expressões interacionais primitivas não verbais e gestos corporais que expressam significados afetivos.
Nesse viés, é importante a utilização de estudos como os de autores que tratam das expressões faciais quando resultantes de variadas emoções em situações de paz, alegria ou de conflito, ou seja, situações do nosso cotidiano. Assim, Darwin observou que: “A expressão livre de sinais externos de uma emoção a intensifica. Por outro lado, a repressão, até onde isso é possível, de todos os sinais exteriores, suaviza as nossas emoções” ([1872] 2009, p.333).
Dando continuidade, para identificação das expressões no nível fisiológico, destacamos os trabalhos de Darwin com as análises que demonstram preocupação com o comportamento humano, numa terceira edição em língua inglesa confiada a Paul Ekman. Este autor é um estudioso da linguagem das emoções e como elas no influenciam e aborda a universalidade da expressão sobre os aspectos estritamente anatômicos das emoções, refletidos nas expressões faciais (EKMAN, 2011).
Nessa seara, Roger Fischer e William Ury (2009) consideram os aspectos emocionais como fundamentais na negociação de conflitos pois, segundo eles, a “emoção é inimiga das negociações eficazes e dos negociadores eficientes” e influencia o pensamento e a ação das pessoas e a linguagem, inclusive. Desse modo, os autores apresentam como as emoções podem ser usadas para transformar uma situação de conflito.
Somando-se a esses estudos, a neuropsicologia cognitiva descobriu a importância das emoções na elaboração de escolhas e estratégias mentais. O neurologista português António Damásio, autor mencionado pela professora, estudou a relação entre a razão e a emoção e analisou os distúrbios de um paciente, desprovido de emoções desde que fora submetido à ablação de uma parte de seu lobo frontal, embora todas as suas faculdades mentais continuassem normais.
Desse modo, as investigações de sua pesquisa revelaram que as emoções nos ajudam a pensar, afirmando que há uma dupla dimensão da emoção, ou seja, biológica e cognitiva, considerando que as sensações corporais são fundamentais na tomada de decisão. A informação emocional é necessária para que tomemos decisões adequadas, o que faltava no seu paciente. Tais questões continuam a ser destacadas.
Damásio (1996), mostra o erro de Descartes, que considera a razão em detrimento da emoção e estabelece uma diferença entre emoção e sentimento. Segundo o autor, as emoções envolvem aspectos externos (responsáveis pela formação) e internos (efeitos, reflexos no corpo) ao humano, sendo um conjunto das alterações no estado do corpo associadas a certas imagens mentais. Assim, para ser uma emoção, o estado do corpo deve apresentar alterações provenientes de um estado mental a partir das repre¬sentações e interações sociais, sendo que sentimento está ligado ao resultado do estado mental dessas representações.
Dessa forma, o estudo das emoções objetiva a compreensão do ser, articulando identidades e aspectos emocionais, verificando através das expressões das emoções um padrão de predominância de sentimentos e comportamentos que possam ser identificáveis. Assim como as emoções são características inerentes a todos os seres humanos, passíveis de observação, as emoções são imanentes nos momentos de conflitos.
Desta forma, dotados de destreza, agilidade e conhecendo as técnicas e ferramentas como elementos necessários, o estudo das habilidades socioemocionais contribuem para que nós sejamos capazes de enxergar com clareza o relógio que bate no peito das pessoas em conflito, de mostrá-las que o relógio não está enlouquecido (numa abordagem poética) e compreender a importância do estudo da linguagem das emoções (THOMÉ, 2017).
REFERÊNCIAS
DAMÁSIO, Antonio. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996).
DARWIN, Charles. A expressão das emoções nos homens e nos animais. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009 (1872).
EKMAN, Paul. A linguagem das emoções. São Paulo: Lua de papel, 2011.
FISHER, Roger; URY, William. Além da razão: a força da emoção na solução de conflitos. Tradução Arão Sapiro. Rio de Janeiro: Imago, 2009.
THOMÉ, Hugo Alexandre Cançado. Emoção, sentimento e conflito: uma proposta para mediadores. 2017. Dissertação. Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2017.