Por: Rafaela Mota Holanda[1]

A preparação do mediador pode ser comparada a uma longa caminhada numa estrada não linear, mas que exige movimentos definidos. Nessa caminhada, por vezes, será necessário que ele esteja sozinho e em outras situações acompanhado, para que se prepare de maneira adequada. Por mais que o caminho não seja sequenciado, é dotado de experiências existenciais fundamentais para que o mediador aprenda a lidar com as circunstâncias que compõem uma sessão de mediação: o inesperado, as sucessivas ocorrências e, principalmente, a explosão de emoções dos envolvidos no conflito e as próprias emoções. Isso envolve autoconhecimento, consciência na hora de tomar decisões e a gestão de todas essas realidades. Na prática, todos esses aspectos correlacionados cooperam para a construção do consenso e o acesso à justiça.

Essa reflexão faz sentido quando se desenvolve um olhar mais poético para o processo de mediação, comparando-o a experiências artísticas que precisam ser experimentadas, ultrapassando a teoria (WARAT, 2004)[2]. Ou seja, as vivências e os aprendizados que virão a partir delas vão compondo essa trajetória e apresentando as fragilidades do mediador e os aspectos que ele precisa trabalhar internamente para que exerça seu ofício com qualidade. Essa capacidade de percepção mostra-se tão essencial no processo de preparação do mediador que Ury (2015)[3] escreve sobre preparação interior antes de falar das técnicas em negociação, pois ele entende que primeiro deve ocupar o seu lugar na mediação (e na vida); tornar-se responsável por suas ações durante o processo de mediação; buscar fontes de inspiração para resolver os conflitos; estar inteiramente presente naquele momento; ser empático e bom ouvinte e encontrar significado no que está fazendo para depois trabalhar procedimentos e métodos.

Nesse sentido, saber gerir conflitos é complexo e exige uma visão sistêmica e multidisciplinar do processo de preparação do mediador para que ele descubra como equilibrar suas habilidades e fragilidades, quais são seus gatilhos emocionais e compreenda seus sentimentos até desenvolver a inteligência emocional. Quanto tempo vai levar essa caminhada de preparação? Provavelmente a vida inteira, o importante é começar.

Referências

[2] WARAT, Luis Alberto. Ofício do mediador. Florianópolis Habitus, 2004
[3] URY, William. Como chegar ao sim com você mesmo. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.

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Rafaela Mota Holanda

Mestra em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza, Especialista em Direito Administrativo, Conciliadora Judicial atuante no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da Comarca de Fortaleza, Autora do livro O Direito à Educação: a arte como caminho para o desenvolvimento da gestão de conflitos em jovens, Advogada.

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